
Caminhão encontrado com 39 corpos mortos. Uma tragédia decorrente da outra:
A imigração ilegal. Sim, isso mesmo que você leu. A imigração ilegal e uma tragédia, um marco na vida do imigrante que é acompanhado pela esperança de um futuro melhor. É tragédia, pois, ao contrário do que muitos pensam, não é uma escolha, mas sim a última tentativa de escapar da extrema pobreza, ou de situações de guerra.
A queda das fronteiras é um sonho sem tamanho e eu nao sou otimista. Há muita coisa envolvida na questão: cultura, economia, etnia etc. E como resolver o problema? Enquanto não nos é apontada uma solução, podemos, e devemos, nos aproximar da questão. É de suma importância entender a geografia da imigração antes de qualquer julgamento, pois, se pessoas arriscam a traçar percursos com o risco de não chegar ao destino final, é porque a esperança é a última que morre. E pode morrer mesmo. Entender o trajeto, o mapa, dessa trajetória nos ajuda a entender de onde as pessoas estão fugindo, trazendo um esclarecimento do motivo da fuga, e, também, qual caminho fazem. Caminhos esses que apresentam falhas nas fronteiras, abrindo espaço para o tráfico de humanos; no sentido de que não há somente imigrantes percorrendo essas estradas, mas também, a venda ilegal de menores, mercadoria contrabandeada etc. A imigração ilegal é um mercado negro no qual os que se adentram pagam com duas moedas: a primeira, monetária, a segunda, a própria vida.
Bouchra Khalili, artista marroquina francesa, desenvolveu o projeto “ The Mapping Journey”, obra de relevante importância tanto social como artística. Oito vídeos minimalistas que narram a trajetória de 8 resistentes, como a artista prefere chamar, ao invés de refugiados, mostrando no mapa mundi a trajetória perigosa que cada um percorre. Com apenas uma caneta, vemos uma nova cartografia sendo criada, uma geografia “invisível” mas existente, cercada de armadilhas e de pessoas dispostas a enfrentá- las. Cada vídeo apresenta uma história inesperada, com longas andanças, outras curtas devido a intervenção da polícia.
Não chegamos a conhecer o narrador, mas a sua descrição da rota, nos coloca, de certa forma, num lugar de empatia. Não tem sentimentalismo, apenas fatos. Em uma das histórias, no Mapping Journey # 6, um homem que deseja chegar à Itália descreve sua jornada deixando o Afeganistão. Ele atravessa o Paquistão até o Irã antes de caminhar para Istambul, viaja então, Bulgária, Hungria, Áustria, Alemanha, Bélgica, Inglaterra e França, finalmente indo para Roma!
A videoarte de Khalili não apenas nos ajuda a visualizar a rota traçada pelos imigrantes, mas também empodera dando à eles voz, indo além do que o jornal nos apresenta.
Caminhão encontrado com 39 corpos mortos. Foi assim que nos foi apresentada a notícia, é assim que vêm a questão. O que está por traz disso tudo está longe do nosso entendimento. É fácil lamentar, ou ainda, enxergar apenas 39 corpos. E por isso que o trabalho de Khalili é importante. Pois ela dá voz, o direito de narrar os fatos assim como eles foram, as diferentes 8 pessoas que poderiam ter morrido, mas sobreviveram. E é por isso que ela os nomeia “resistentes” e não “refugiados”.
Conheça mais sobre a artista:
http://www.bouchrakhalili.com/the-mapping-journey-project/