
“Às vezes tenho sintomas de realidade. Faço dos sonhos campo de treinamento e me pergunto:
— Por que acordo com areia no olhos?
Vai ver é a corrida contra o tempo.”
Perguntaram a ela na rua se é atriz. Talvez, ela tivesse algumas aparições pelo palco ou talvez seja essa verossimilhança: ela acaba confundindo-se com alguém, porque passa no mundo e não passa despercebida. Ela é alguém que fica. Uma presença largamente marcante, um olhar que penetra.
Ela diz autenticamente o que lhe vem à cabeça como se fosse uma espécie de médium ou, até, uma bruxa.
Pode ser isso! Pode ser que ela tenha uma espécie de poder mágico, de alguém que brinca com o fogo com precisão, de alguém que lê mentes e tira da manga uma interpretação certeira. Adriana parece ler aquela meia linha de uma história e, com isso, já se basta para preencher as lacunas. Aquela meia linha que muda o rumo de uma história. Uma meia linha que serve como alerta e também como uma forma de continuar acreditando que tudo é possível de acontecer.
Essa meia linha é sempre um risco, ela sabe. Mas um risco que, de certa forma, sempre vale a pena tomar, de preferência junto a uma pint, uma taça de vinho ou, até mesmo, comendo uma maçã.
No mínimo, sai uma história. No máximo, saem várias. E viver alguma história com ela é sempre interessante. Em meio aos pequenos e raros breaks de algum dos três ou quatro trabalhos, nesse vai e vem pelas ruas de Dublin, no intervalo da faculdade ou voando pelo mundo como um pássaro. Haverá sempre uma história para contar, e sem dúvida ela te contaria.
Ela conta. Ela diz. Ela precisa falar.
Com a voz tão penetrante quanto os olhos. Com as ondas avassaladoras dos cabelos, ora negras, ora vermelhas. Ousa falar também o jeito que anda, a distração por vezes proposital e outras vezes natural como um beija-flor com hora marcada para bater as asas.
Tudo nela fala alguma coisa. Às vezes grita. Às vezes canta.
E eu não duvido que o canto dela nos leve a destinos curiosos.
“Estou no cheiro do seu cabelo
no teu lençol
na xícara de café
e escova de dente
I am all over you
e nas coisas
Pareço só lembrança
Pois no teu diálogo e futuro
não estou
Estou só — em mim mesma
e isso tem que bastar”
ADRIANA RIBEIRO
Adriana Ribeiro, também conhecida como “bizunnga”, nome dado por sua mãe, porque sua terra é como se chama o pássaro beija-flor – além de poeta e escritora, está atualmente desenvolvendo uma peça “On The Edge”, um projeto que nos faz refletir sobre o medo e a burocracia na sociedade.
Adriana é formada em Rádio e TV no Brasil. Mudou-se para Dublin em 2015. Atualmente, estuda Cinema em Dublin. Ela tem poemas publicados na coleção “[Trinta e dois Quilos – Uma Antologia Brasil-irlanda]”, da Urutau; e poemas em inglês publicados nos zines “FLARE”, organizados por “The Sunflower Sessions”.